Retrospectiva 2022: como foi o ano do Bitcoin e criptomoedas?

O que aprendemos com o mercado cripto em 2022? Relembre como foi o ano para o Bitcoin e criptomoedas, seus principais acontecimentos e o que esperar para 2023.

José Artur Ribeiro
Última atualização:
1/8/2023

Após a disparada das criptomoedas em 2021, a expectativa para 2022 era de que o mercado cripto tivesse um ano ainda melhor. No entanto, o inverno cripto nos últimos meses foi acelerado pela crise macroeconômica. 

Criptomoedas, tokens, NFTs, moedas do metaverso, entre outros ativos digitais sentiram os impactos do cenário econômico global e de outros eventos negativos. O volume de negociação foi afetado e o mercado cripto caiu mais de 50% desde o pico em 2021.

Apesar disso, quando olhamos para os acontecimentos recentes, conseguimos perceber que os fundamentos do Bitcoin e outras criptos mais sólidas seguem fortes, assim como o potencial da tecnologia cripto.

Logo, podemos resumir 2022 como um ano que trouxe muitas oportunidades e aprendizados para investidores. É isso o que viemos destacar nesta retrospectiva 2022 sobre Bitcoin e criptomoedas.

Continue lendo para entender os principais eventos que aconteceram no ano das criptos e o que esperar para 2023.

Vamos relembrar:

  • Impactos do cenário macro e atenção ao Fed
  • Colapso da Terra (LUNA e UST)
  • The Merge da Ethereum
  • Falência da FTX
  • Aprovação do marco legal das criptos no Brasil
  • Interesse por NFT e Metaverso seguem fortes

Retrospectiva cripto 2022: como foi o ano das criptomoedas?

O ano de 2022 foi marcado por uma queda que atingiu todo o setor cripto. O Bitcoin, maior criptomoeda do mercado, chegou a recuar mais de 60% ao longo do ano. Outras das principais criptos também sofreram forte desvalorização, como Ether, XRP e BNB:

Gráfico comparando o desempenho das criptomoedas, em ordem de melhor desempenho, BNB, XRP, BTC e ETH
Comparação do desempenho de BTC, ETH, BNB e XRP em 2022. Fonte: Google Finance

NFTs e moedas do metaverso, que foram grande destaque no ano passado, também sofreram os impactos do inverno cripto, com a grande diminuição no volume de negociação desses ativos.

Para se ter uma ideia dessa baixa, o gráfico a seguir indica o volume de negociação semanal de NFTs entre categorias, como artes, colecionáveis e games.

Em contraste com a explosão que ocorreu em setembro de 2021, a partir de maio deste ano, houve uma queda expressiva no volume de negociação de tokens não fungíveis.

No entanto, os números negativos ajudaram investidores a entender a importância de olhar para os fundamentos das criptomoedas e compreender a dinâmica dos ciclos de mercado.

Quanto a isso, vale a pena destacar os seguintes fatores:

Baixas não foram só no mercado cripto, e tecnologia segue forte

Se engana quem pensa que a queda de 2022 ocorreu porque o interesse no mercado cripto se perdeu.

Dados on-chain do IntoTheBlock mostram que, mesmo diante do recuo dos preços, o número de endereços de Bitcoin com saldo diferente de zero aumentou constantemente ao longo do ano.

Gráfico apontando o aumento de endereços Bitcoin com saldo diferente de zero ao longo de 2022
Número de endereços Bitcoin com saldo diferente de zero. Fonte: IntoTheBlock

Além disso, dados de pesquisa patrocinada pela Coinbase em novembro revelaram que 62% dos investidores institucionais que já possuem alocações em criptomoedas aumentaram suas participações nos últimos 12 meses. Em comparação, apenas 12% diminuíram sua exposição a criptomoedas.

Isso indica que investidores institucionais continuam vendo o potencial nas criptos para o longo prazo, mesmo durante o atual inverno cripto.

Outro ponto de destaque é que a tecnologia cripto e a Blockchain continuam sendo amplamente aplicadas a diferentes setores.

Um exemplo disso é o avanço da tokenização de ativos e o desenvolvimento de CBDCs (moedas digitais de Bancos Centrais) ao redor do mundo, como o próprio Real Digital, que pode ser lançado em 2024.

Vale destacar também que não foi só as criptomoedas que tiveram um ano difícil. Isso porque o inverno cripto foi resultado não apenas de crises internas no setor, mas também de um cenário macroeconômico negativo para os mercados globais, altos índices de inflação, além de um conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia que se estende desde fevereiro.

Nesse vídeo, você confere um resumo de todo o que aconteceu em 2022 no mercado cripto. Ao longo do artigo, comentamos com mais detalhes esses e outros fatos importantes para entender como foi o ano das criptomoedas.

1. Impactos do cenário macroeconômico e atenção ao Fed

Não é novidade que as decisões econômicas tomadas por grandes potências mundiais como os Estados Unidos impactam o mundo inteiro, e com as criptomoedas não tem sido diferente.

Em junho, o Federal Reserve elevou as taxas de juros em 0,75 ponto porcentual, o maior desde 1994, e seguiu com o política de aperto monetário ao longo do ano.

Entre os principais fatores que motivaram o aumento dos juros pelo Fed está a alta inflação no país e a necessidade de estabilizar o nível geral de preços com a retomada pós-pandemia, movimento que acaba causando um estresse global.

O que o contexto macro tem a ver com a baixa do Bitcoin?

Essa postura do Fed causou um sentimento de aversão ao risco em investidores, que passaram a migrar dos investimentos de maior volatilidade, como as próprias criptomoedas, para produtos mais estáveis, derrubando o preço do BTC e dos demais criptoativos. Esse foi um dos principais fatores por trás da baixa do Bitcoin em 2022.

Outros eventos relacionados ao contexto econômico mundial como o conflito armado entre Rússia e Ucrânia também reforçou essa baixa, pois o pânico e incerteza levaram a uma fuga de capital dos investimentos considerados de risco.

E agora que investidores institucionais passaram a aderir ao investimento em Bitcoin, essa correlação entre BTC e o mercado de ações de tecnologia americano se tornou inevitável.

Por outro lado, o Bitcoin sempre se destaca como uma forma de manutenção da liberdade financeira, o que também ficou mais evidente com o aumento da busca por moedas alternativas na Rússia após o começo do conflito.

Portanto, é importante que investidores acompanhem cautelosamente o desempenho de ações e criptomoedas diante do cenário macro, inclusive para 2023, em busca de entender como o Fed irá agir nos próximos meses.

2. A quebra do projeto Terra (LUNA e UST)

A queda da Terra e seu token LUNA foi um dos primeiros e mais marcantes acontecimentos que impulsionaram o inverno em cripto em 2022.

Um dos principais projetos até então, antes da queda, LUNA se encontrava entre o top 10 das criptomoedas com maior capitalização de mercado. 

No entanto, o projeto não conseguiu sustentar sua proposta econômica, considerada frágil desde o início por muitos analistas, e sofreu um grande colapso em maio de 2022.

O token, que já custou cerca de US$120 em sua máxima histórica, chegou a ser negociado por cerca de US$0,01 no dia 12 de maio:

Gráfico de preço de LUNA em 2022 com enorme queda em 12 de maio
Fonte: CoinMarketCap

O principal catalisador da crise foi a perda de paridade da stablecoin do projeto (UST) ao dólar

Essa falha levou a uma desvalorização de cerca de 100% da LUNA em apenas sete dias, desencadeando uma onda de insegurança e desconfiança que atingiu o mercado cripto.

Essa quebra foi consequência de uma série de eventos:

  • No dia 7 de maio, houve uma troca milionária entre UST e USD Coin. A princípio, o preço do UST não foi muito afetado.
  • Novas ordens vendedoras de UST foram feitas, causando uma pressão vendedora que o protocolo Terra não conseguiu conter.
  • A fundação por trás do projeto (Luna Foundation Guard) chegou a despejar mais de 80 mil Bitcoins no mercado para tentar segurar o preço do UST, mas não funcionou.
  • A LFG passou a emitir unidades de LUNA para queimar USTs e tentar controlar a oferta, o que causou inflação do token e contribuiu ainda mais para sua desvalorização.

Essa sequência de eventos acabou resultando em um efeito cascata com a emissão descontrolada e ilimitada de novos tokens LUNA, ocasionando no espiral do colapso da criptomoeda.

As consequências do colapso

Mais tarde, foi feita a bifurcação da rede em uma tentativa de transformar a Terra 2.0 em uma Blockchain totalmente diferente, enquanto o projeto antigo passou a se chamar LUNA Classic (LUNC).

Em meados de dezembro, o token LUNA está custando US$1,65, enquanto Terra Classic (LUNC) custa US$0,0001.

Seu fundador, Do Kwon, é atualmente procurado internacionalmente pela Interpol e pelas autoridades da Coreia do Sul, investigado sobre seu envolvimento com a crise que gerou um enorme prejuízo para diversas pessoas ao redor do mundo, enquanto as entidades por trás das vendas bilionárias de UST lucraram com a derrocada da LUNA.

Para os investidores, ficou o aprendizado sobre a importância de entender os detalhes do projeto de cada criptomoeda em que se pretende investir.

No entanto, assim como sempre falamos em nossos conteúdos, o mercado de ativos de renda variável é imprevisível.

Assim, ficou ainda mais evidente a necessidade de estratégias como stops e diversificação de investimentos para o sucesso de qualquer operação, sobretudo pensando em médio e longo prazo.

3. The Merge, a grande atualização da Ethereum

A atualização da Ethereum foi um dos eventos mais aguardados do ano para o universo cripto.

Isso por se tratar da maior Blockchain para contratos inteligentes do mercado, que teria seu sistema de validação completamente alterado, entre outras novidades implementadas com a atualização.

Com o nome de “The Merge”, esse processo consistiu na troca do consenso de mineração Proof of Work (o mesmo usado atualmente pelo Bitcoin) para Proof of Stake. A implementação foi concluída com sucesso no dia 15 de setembro.

Com a mudança, a validação das transações na rede Ethereum passou a ser feita por validadores que possuem ativos ETH travados na rede, eliminando a necessidade de mineração via prova de trabalho e poder computacional.

O processo surgiu a partir de uma demanda pela redução de consumo de energia na atividade de mineração, um dos pontos mais questionados mundialmente sobre a sustentabilidade das criptomoedas.

A partir do The Merge, também passou a ser possível fazer staking na rede Ethereum, uma forma de obter renda passiva ao manter unidades de ETH bloqueados em um contrato inteligente na Blockchain.

Esse incentivo faz com que parte do fornecimento da moeda no mercado seja retido, o que pode contribuir para a tendência de que o Ether se torne ainda mais valioso no futuro.

Porém, as expectativas com relação à atualização não foram todas unânimes e o risco de centralização da rede foi um dos principais debates em torno da The Merge.

Para saber mais, confira o bate papo sobre The Merge que tivemos com Solange Gueiros, desenvolvedora Blockchain com foco em Bitcoin, Ethereum e contratos inteligentes:

4. Falência da FTX e prisão de seu CEO, Sam Bankman-Fried

Na primeira semana de novembro, o mercado cripto foi impactado com as notícias de que a FTX, uma das maiores exchanges do mundo, estava insolvente e, portanto, sem liquidez para cumprir com o saldo dos clientes.

A crise foi resultado de uma série de irresponsabilidades com relação à alocação institucional em criptoativos usando o próprio token da corretora, o FTT, como uma garantia que, na verdade, não era válida.

Changpeng Zhao, CEO da Binance, chegou a anunciar sua intenção de comprar a FTX com o objetivo final de honrar os saques da corretora fundada por Sam Bankman-Fried (SBF). 

Porém, a Binance voltou atrás de sua decisão após revisão dos dados internos da FTX. Ao se atualizar sobre a situação da concorrente, o comunicado foi de que estaria além do alcance da própria empresa.

Tradução: Como resultado da diligência prévia corporativa, bem como das últimas notícias sobre fundos de clientes mal administrados e supostas investigações de agências dos EUA, decidimos que não prosseguiremos com a possível aquisição da FTX.

Após essa desistência, diante do medo de mais um colapso de uma grande empresa cripto, uma onda de novas quedas e liquidações atingiu o mercado.

O Bitcoin chegou a cair para US$15.600, o menor preço desde 2020, e Ethereum recuou para US$1.150. O mercado como um todo acompanhou essa queda e algumas altcoins, como Solana, tiveram seus preços caindo entre 25% e 30% em 24 horas.

O que parecia inevitável de fato aconteceu e a FTX entrou com pedido de proteção contra falência na sexta-feira dia 11 de novembro e SBF renunciou ao cargo de CEO.

Nota à imprensa divulgada pela FTX, declarando a entrada em pedido de proteção contra credores nos EUA, pelos termos do Capítulo 11 da Lei de Falências do Código Estados Unidos.

A quebra da FTX gerou uma onda de contágio no setor cripto. A crise de liquidez afetou fundos e empresas com exposição à exchange, e algumas delas ainda se encontram em uma situação delicada.

Já em dezembro, o preço das principais criptos voltaram a se estabilizar e andar de lado, com o mercado aparentemente já digerindo o colapso da FTX.

O caso ainda se desenrola na Justiça americana e SBF foi preso nas Bahamas, no dia 13 de dezembro.

Esses eventos colocam um alerta sobre a liquidez de exchanges e sobre a importância da segregação patrimonial entre ativos da corretora e dos clientes.

Para investidores, fica o aprendizado sobre buscar saber sobre as medidas de custódia segura que as plataformas de negociação de cripto adotam.

Na Coinext, por exemplo, os ativos dos clientes estão custodiados na BitGo, custodiante regulada nos Estados Unidos pela SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA). Além da alta governança, nossa custódia possui apólice de seguro.

No vídeo a seguir, você entende com mais detalhes por que a Coinext é um ambiente seguro para investir:

5. Marco legal dos criptoativos é aprovado no Brasil

A Câmara dos Deputados aprovou a regulamentação das criptomoedas no Brasil em um momento histórico para o setor cripto no país.

O Projeto de Lei 4.401/21, que estabelece o marco legal dos ativos digitais, foi votado no dia 29 de novembro e aguarda sanção presidencial.

Podemos resumir os principais pontos sobre o PL em:

  • O poder Executivo irá indicar um órgão para estabelecer as diretrizes do mercado de criptomoedas, que tem grandes chances de ser o Banco Central.
  • Ficaram definidos crimes e penas para atividades ilegais, como lavagem de dinheiro e esquemas de pirâmide, que utilizem ativos digitais como meio.
  • Estipula uma licença obrigatória para prestadores de serviços virtuais, incluindo exchanges e outras empresas que intermediam negociação de ativos digitais.
  • Isenção de imposto na importação de computadores especializados em mineração de criptomoedas a partir de fontes renováveis de energia.

De forma geral, a regulação do mercado é benéfica para investidores por trazer mais segurança e amparo legal aos usuários, ao passo que também pode proporcionar maior segurança jurídica para as empresas sérias que atuam no setor.

Isso estimula a competitividade saudável, expansão do mercado e geração de empregos.

Entretanto, o trecho que trata da separação dos fundos dos clientes do caixa das empresas não foi incluído no texto aprovado e será discutido posteriormente.

6. Interesse por NFT, Metaverso e Web3 seguem fortes

Mesmo após forte queda no volume de negociação, a retrospectiva do Google sobre os assuntos mais pesquisados no Brasil em 2022 revelou que “o que é NFT?” ficou em segundo lugar nas pesquisas quando a dúvida era “o que é” alguma coisa.

O Metaverso também foi um grande interesse do público e uma tendência mundial ao longo do ano. Não por acaso, o termo “metaverso” foi eleito pela Oxford como uma das principais palavras de 2022.

A Oxford Languages destacou que o uso do termo continua crescendo à medida que mais pessoas e empresas se juntam ao debate sobre o futuro da interação online.

Starbucks, Porshe, Mattel e Warner são alguns exemplos de grandes empresas que aderiram aos NFTs em 2022. Até mesmo a brasileira Ambev chegou a lançar um jogo Web3 este ano.

Todos esses fatos reforçam a usabilidade da tecnologia por trás dos criptoativos em diferentes setores. Isso contribui para a visibilidade dos ativos digitais, o que tende a crescer ainda mais no próximo ano.

O que esperar para o mercado cripto em 2023?

Para 2023, é difícil prever uma recuperação para o mercado cripto no curto prazo sem que ocorra uma melhoria na economia mundial.

Enquanto governos ao redor do mundo seguirem no compromisso de enfrentar o cenário inflacionário atual, as políticas monetárias e a alta dos juros tendem a continuar pressionando para baixo os preços dos criptoativos.

Entretanto, a tecnologia por trás dos ativos digitais avançou ao longo de 2022 e tende a continuar se expandindo no próximo ano.

Além disso, o avanço da regulação dos criptoativos no Brasil e no mundo é um dos principais fatores que podem atrair mais investidores institucionais.

Vale a pena ter atenção à tecnologia cripto

A vasta aplicação da Blockchain possibilitou o avanço da tokenização de ativos, DeFi, NFTs, Web3 e Metaverso como algo cada vez mais integrado a diferentes setores e mercados, o que vem despertando o interesse de empresas e de um público cada vez mais amplo.

Essa maior exposição e usabilidade contribui para o crescimento do mercado cripto e tem se mostrado uma constante independente dos preços.

No longo prazo, os fundamentos não mudam

Por fim, é importante destacar que os fundamentos do Bitcoin continuam sólidos. Isso porque as características do BTC relacionadas à escassez, descentralização e segurança permanecem firmes mesmo diante das baixas do mercado.

Esse é o maior motivo que leva investidores a comprarem criptomoedas em queda para aproveitar a oportunidade de fazer aportes em criptoativos consolidados em um patamar baixo.

Portanto, lembre-se: tenha sua estratégia bem definida e siga fiel a ela. Mesmo que esteja durando tempo demais, o inverno cripto não é para sempre. O mercado é cíclico e as oportunidades surgem a todo o momento.

Sobre o autor
José Artur Ribeiro
Um dos fundadores e CEO da Coinext. Economista formado pela Università di Roma (Itália) e investidor em criptomoedas desde 2014. Possui mais de 15 anos de experiência em cargos de liderança. Foi CFO da Hexagon Mining e CFO da Vodafone Brasil. Trabalhou também em multinacionais como Airbus Industries (França) e PricewaterhouseCoopers (Itália e Brasil).
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