O que é recessão? Entenda como afeta as criptomoedas

Mas afinal, o que é uma contração ou recessão econômica? Entenda ao longo deste conteúdo as causas e implicações desse fenômeno.

Redação Coinext
Última atualização:
11/10/2024
Finanças

A economia global é composta por uma rede complexa de relações e acordos que envolve todas as indústrias, empresas, governos, instituições, investidores e trabalhadores. Historicamente, as economias globais costumam passar por ciclos de crescimento e contração.

Mas afinal, o que é uma contração ou recessão econômica? Entenda ao longo deste conteúdo as causas e implicações desse fenômeno. Veja também como o mercado de criptomoedas pode ser afetado por eventuais crises econômicas.

O que é recessão econômica?

Uma recessão é classificada como uma diminuição generalizada da atividade econômica. Uma contração pode ocorrer em regiões específicas, como um determinado país ou continente, ou de forma sistêmica em nível global.

Além disso, existem recessões em indústrias e mercados específicos. Por exemplo, o mercado de tecnologia passou por uma forte crise após o estouro da bolha da internet no começo dos anos 2000.

Por sua vez, o mercado de criptomoedas passou por três grandes crises ao longo da última década, em:

  • 2014;
  • 2018;
  • 2022.

Em todas as vezes, o mercado conseguiu se recuperar, alcançando novas máximas históricas.

Não existe uma definição oficial do que é considerado uma recessão econômica. Entretanto, existem alguns critérios técnicos para defini-las, como uma queda trimestral consecutiva no PIB de um determinado país.

No entanto, múltiplos fatores podem ser observados para definir se um país ou indústria está em recessão, como:

  • Queda no preço das ações;
  • Diminuição da atividade laboral;
  • Diminuição dos investimentos;
  • Queda no preço de ativos financeiros;
  • Descontrole cambial.

Quais as causas e consequências de uma recessão?

Recessões econômicas podem ser consideradas naturais e inevitáveis, dada a natureza volátil das empresas, negócios, mercados financeiros e relações de comércio. Múltiplos fatores podem desencadear esse fenômeno, seja em nível local, global ou em alguma indústria específica.

Mudança na curva de juros

As taxas de juros pagas pelos títulos públicos são importantes instrumentos financeiros dos governos para controlar a política monetária. Normalmente, o controle dos juros é feito para equilibrar a inflação e impulsionar a atividade econômica.

Uma diminuição dos juros costuma provocar um aumento da atividade econômica, uma vez que incentiva o endividamento. Ele, por sua vez, tende a aumentar os investimentos e o consumo. No entanto, a diminuição dos juros tende a pressionar os índices inflacionários.

Por sua vez, o aumento dos juros é uma medida tomada para diminuir a inflação. No entanto, a consequência desta medida é normalmente uma diminuição da atividade econômica. Isto ocorre porque a tomada de empréstimos para realizar investimentos e consumir é desincentivada.

Maus investimentos

A má alocação de recursos pode certamente provocar recessões econômicas em países ou indústrias. Um claro exemplo de uma má alocação de recursos no mercado financeiro foi os investimentos feitos durante a bolha da tecnologia nos anos 2000.

Após o estouro da bolha, milhares de empresas deixaram de existir, e muitas não se recuperaram até hoje. Especificamente, estes maus investimentos em tecnologia foram impulsionados por diferentes fatores, como:

  • Entusiasmo excessivo em relação ao potencial da internet e dos computadores pessoais no início dos anos 2000;
  • Falta de conhecimento dos investidores sobre as reais capacidades da internet naquela época;
  • Fear of Missing Out (FOMO): Medo de perder a oportunidade de investir em empresas de internet.

Ainda assim, o mercado de tecnologia conseguiu se recuperar nas décadas seguintes. No entanto, desta vez, com empresas e modelos de negócio mais sólidos e consistentes.

Por sua vez, muitos maus investimentos foram feitos no mercado de criptomoedas ao longo dos anos. Milhares de criptoativos e projetos simplesmente desapareceram por completo, deixando grandes prejuízos.

Crises bancárias

Os bancos modernos não são apenas custodiantes, mas também responsáveis por assegurar o dinheiro e os ativos de seus clientes. O sistema bancário funciona por meio de complexas regulamentações, que permitem práticas que podem levar instituições à ruína.

Ao longo do último século, diversos bancos enfrentaram problemas financeiros, e alguns faliram. A crise financeira de 2008 foi em grande parte provocada por bancos que negociavam produtos financeiros de alto risco e com alta alavancagem.

Quando muitos indivíduos começaram a não pagar suas hipotecas, o valor desses títulos despencou. Isso provocou perdas massivas em diversos mercados e fundos de investimento. O banco Lehman Brothers, em 2008, foi um dos mais afetados, tendo declarado falência após diversas tentativas de recuperação.

Erros na política monetária

Erros na política monetária de um país podem acarretar graves distorções econômicas. Tanto expansões quanto contrações monetárias podem ser catalisadores de crises financeiras.

Países com uma política monetária frouxa, caracterizada pela expansão da base monetária e juros reais baixos (juros nominais menos inflação), costumam enfrentar alta inflação ou até mesmo hiperinflação.

Neste cenário, o preço dos produtos e serviços tende a disparar, provocando insatisfação, maus investimentos e preocupação por parte das empresas, indivíduos e famílias. Uma alta inflação pode trazer uma série de consequências negativas, como:

  • Desinvestimentos: Em um ambiente de alta inflação, empresas e indivíduos podem ser incentivados a desinvestir e a retirar seus recursos do país, o que tende a retroalimentar os efeitos negativos;
  • Emigração em massa: Hiperinflação e crises econômicas podem ser um forte catalisador para que pessoas, famílias e empresas deixem um país. Estima-se que 7,7 milhões de venezuelanos (~25% da população) tenham deixado o país ao longo dos últimos anos;
  • Desconfiança geral: Em momentos de crise, os indivíduos, empresas e famílias costumam ser mais cautelosos, o que tende a diminuir a atividade econômica e agravar ainda mais a recessão.

Por sua vez, uma política monetária excessivamente rígida também pode provocar recessões de curto prazo. No entanto, isso não costuma ser tão devastador para uma economia quanto os efeitos de uma hiperinflação.

Choques de oferta

Mudanças na oferta de um determinado bem ou commodity podem desencadear crises econômicas. Ao longo das últimas décadas, a oferta de petróleo disponível no mercado foi um fator fundamental para desencadear algumas recessões.

Por exemplo, a crise do Petróleo (1973-1975) foi desencadeada por uma decisão da OPEP para punir os Estados Unidos pelo seu apoio a Israel na Guerra do Yom Kippur. Isso resultou em um aumento nos custos dos produtos derivados do petróleo, o que causou uma recessão econômica nos EUA.

Por sua vez, o aumento da oferta de um determinado bem ou ativo financeiro também pode provocar crises locais ou globais. Por exemplo, a descoberta de grandes jazidas de ouro de fácil extração poderia provocar uma queda nas ações de empresas que acumulam grandes quantidades do metal.

Mudanças demográficas

Uma mudança demográfica pode ser definida pela alteração da composição da população em uma determinada região. Mudanças na demografia podem certamente provocar crises variadas. Alguns exemplos incluem:

  • Envelhecimento da população: O envelhecimento de um país pode criar uma série de problemas econômicos, como crises no sistema de aposentadoria. Além disso, este é um fator fundamental para a diminuição da produtividade geral de um país;
  • Crise migratória: Tanto a saída quanto a entrada excessiva de pessoas em um país podem provocar crises econômicas ao longo do tempo.

Os efeitos demográficos na atividade econômica costumam ser lentos, visto que estes movimentos ocorrem normalmente ao longo de vários anos ou décadas.

Excesso de endividamento

O excesso de endividamento pode ser um fator fundamental para desencadear uma recessão econômica. O endividamento de governos pode provocar alta inflação, visto que bancos centrais podem emitir dinheiro para pagar a dívida.

Por sua vez, o endividamento excessivo dos indivíduos e empresas pode trazer uma série de problemas de insolvência, falências e queda no preço dos ativos. Ele foi um dos grandes catalisadores da crise financeira de 2008.

Desconfiança e preocupação

Somente a ideia de que uma crise financeira está por vir pode ser o suficiente para desencadear uma recessão econômica. Isso ocorre porque os participantes do mercado podem antecipar essas tendências com o objetivo de se proteger, ou mesmo lucrar com a crise. 

Por sua vez, as famílias e indivíduos podem tornar-se mais cautelosos, evitando o consumo e investimentos.

Qual o impacto de uma recessão econômica nas criptomoedas?

Curiosamente, o whitepaper do Bitcoin foi publicado por Satoshi Nakamoto em 31 de outubro de 2008, durante o ápice da crise imobiliária dos Estados Unidos. Claramente, Satoshi entendia que estava construindo o princípio para um potencial novo sistema monetário global.

Em 3 de janeiro de 2009, Satoshi minerou o bloco gênesis e deixou uma mensagem em referência à crise bancária que estava ocorrendo. Em português:

“The Times 03/Jan/2009 Chanceler à beira do segundo resgate aos bancos”.

Bloco Genesis do BItcoin
Bloco Genesis. Fonte: WikimediaCommons

Esta mensagem deixada por Satoshi é a capa do jornal The Times do dia 3 de janeiro de 2009, disponível apenas na versão impressa no Reino Unido. Muitos entusiastas do Bitcoin consideram esta mensagem uma crítica ao sistema financeiro, aos bancos e aos governos, que estavam envolvidos em mais uma crise de grandes proporções.

Recessões e as criptomoedas

As criptomoedas cresceram de forma exponencial ao longo da última década e se integraram de forma proeminente aos mercados financeiros. Atualmente, o Bitcoin já é maior do que grandes moedas de governo.

Como consequência, as criptomoedas estão correlacionadas atualmente com outras indústrias, como o mercado de ações. Além disso, o desempenho do Bitcoin e das criptomoedas também costuma ser afetado por múltiplos fatores, como a política monetária dos bancos centrais.

Antes de detalhar como o mercado de criptomoedas se comporta em cenários de crise, é importante destacar que o setor costuma passar por ciclos próprios de contração e expansão. Pelo menos este foi o movimento observado desde a criação do Bitcoin.

Observe o gráfico BTC/USD em escala logarítmica abaixo:

Recessões e os Bitcoins
Par BTC / USD. Fonte: Tradingview.

O preço do BTC tem passado por ciclos de contração e expansão desde a sua fundação. Este movimento está alinhado com o halving, que está diretamente ligado à política monetária da criptomoeda. A cada vez que 210 mil blocos são minerados (cerca de 4 anos), a emissão de novos bitcoins é cortada pela metade.

Esses movimentos de alta exponencial e contração de preço são uma causa natural do fluxo de liquidez do mercado. O aumento na adoção do bitcoin tende a fazer o preço disparar. Por sua vez, um aumento no preço incentiva a venda, que tende a fazer o mercado cair.

Notavelmente, as altcoins normalmente seguem a tendência geral do Bitcoin. Quando os preços caem, os “corpos começam a boiar”. É nesses momentos que os modelos de negócios insustentáveis, manipulações de mercado e empresas insolventes começam a surgir.

Criptomoedas em meio a crises econômicas

Conforme destacado, a correlação das criptomoedas com os mercados e economias aumentou ao longo dos anos. Por exemplo, o bitcoin caiu quase 50% no início de 2020 em meio a uma queda geral dos mercados financeiros.

Neste momento, praticamente todos os mercados se tornaram vermelhos, incluindo as ações e o preço do ouro. No entanto, crises nem sempre são ruins para o setor.

Por exemplo, muitos investidores podem buscar o investimento em bitcoin ou outras criptomoedas em meio a um aumento acentuado da inflação. Mesmo com a alta volatilidade ainda presente no mercado, as criptomoedas podem ser mais estáveis e previsíveis do que moedas emitidas por governos com política monetária descontrolada.

Michael Saylor, fundador da MicroStrategy, afirmou no passado que adotou o bitcoin como ativo de reserva primário da sua empresa devido às crescentes preocupações com a inflação do dólar americano.

Após isso, a empresa não apenas converteu todo o seu caixa na principal criptomoeda, como também realizou uma série de empréstimos para acumular mais bitcoin.

Em países que passam por hiperinflação, o cenário pode ser ainda mais otimista para as criptomoedas. Neste ambiente, os indivíduos e empresas precisam se proteger para evitar o colapso. Dessa forma, o dólar americano costuma desempenhar um papel importante na proteção do poder de compra em economias emergentes.

Neste contexto, muitos investidores podem buscar o investimento em stablecoins, que rastreiam o preço do dólar americano. Estes são produtos financeiros estáveis, que se contrastam com criptoativos tradicionais, como bitcoin e ether.

É importante destacar que crises não são necessariamente ruins para todos. Na verdade, crises podem ser ótimas oportunidades para lucrar. Warren Buffet, um dos investidores mais renomados da história, apontou em diversas ocasiões que crises são os melhores momentos para comprar bons ativos por preços baixos.

Historicamente, quem acumulou criptoativos sólidos – como Bitcoin e Ether – durante crises do mercado de criptomoedas, multiplicou o investimento várias vezes.

Pronto para aproveitar as oportunidades em tempos de crise?

As recessões podem ser desafiadoras, mas também trazem grandes oportunidades. O Bitcoin e outras criptomoedas já demonstraram resiliência e potencial de crescimento mesmo em cenários econômicos adversos.

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