Descubra o que é, como funciona, qual a história e qual a importância do dólar americano (USD) para a economia global. Saiba mais sobre essa moeda.
Descubra o que é, como funciona, qual a história e qual a importância do dólar americano (USD) para a economia global. Entenda como esta moeda se tornou a principal reserva de valor e meio de troca da humanidade.
USD é a sigla para United States Dollar, que destaca o governo de origem, os Estados Unidos, historicamente a nação mais rica do planeta em termos de PIB (Produto Interno Bruto).
O USD é o ticker do dólar americano, usado para representar a moeda nos mercados financeiros. Por exemplo, o par BTC/USD representa a negociação do bitcoin em conjunto com o dólar americano.
Notavelmente, o termo 'dólar', presente em várias moedas como o dólar australiano e o dólar canadense, remete à moeda 'thaler' ou 'taler'. Esta moeda foi cunhada pela primeira vez na Boêmia, atual República Tcheca, no século XVI, e foi principalmente utilizada para se referir a moedas de prata ao longo da história.
Durante o período colonial, diversas moedas estrangeiras de prata e ouro circulavam nos Estados Unidos, como "pieces of eight". Devido à capacidade de fungibilidade, o metal era importante para assegurar o valor das moedas, que eram facilmente intercambiáveis.
Estavam circulando também nos EUA não apenas moedas de governos ou emitidas por algum reino, mas também moedas privadas, que possuíam emissão privada ou livre. Algumas dessas moedas eram emitidas por bancos e instituições financeiras, ou até mesmo por indivíduos.
No entanto, para padronizar o mercado, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei da Casa da Moeda dos Estados Unidos, que estabelecia a criação do dólar americano. Dessa forma, a Casa da Moeda passou a ser a instituição responsável pela emissão da moeda oficial do governo.
Este foi um marco para centralizar o padrão monetário e padronizar a emissão de dinheiro. Esta centralização é importante para facilitar o comércio e os pagamentos, reduzindo eventuais custos de conversão.
A lei de 1792 especificava que uma unidade de dólar correspondia ao equivalente de 24,056 g de prata pura. Dessa forma, para cada unidade de dólar emitida, deveria haver uma quantidade equivalente de prata devidamente custodiada nas reservas do governo.
Na prática, o valor do dólar era assegurado pela prata, um importante metal que possui aplicações práticas e industriais, além de propriedades monetárias. Devido à sua escassez, a prata é uma ótima reserva de valor.
Além disso, o metal conta com outras propriedades monetárias importantes, como fungibilidade, transportabilidade, verificabilidade e divisibilidade. Ao longo dos milênios, metais escassos como ouro, prata e cobre foram utilizados como dinheiro por diferentes civilizações.
Em outro momento da história, o dólar passou a ter um lastro bimetálico, sendo lastreado em ouro e prata. Notavelmente, o ouro possui uma escassez maior do que a prata, visto que sua oferta anual cresce de forma mais lenta do que a da prata em termos proporcionais.
Em 1900, o governo dos Estados Unidos estabeleceu o como o lastro único do dólar americano. Isso fez com que o governo dos EUA se tornasse um dos maiores detentores de ouro do mundo, à medida que o país se transformava em uma potência global.
O padrão ouro do dólar foi marcado por períodos conturbados. Em 1929, a economia dos Estados Unidos passou pela Grande Depressão, que forçou o governo a tomar medidas drásticas.
Em abril de 1933, o presidente Roosevelt emitiu a Executive Order 6102, que proibiu a posse de ouro por indivíduos, empresas e instituições financeiras. Apenas industriais e joalheiros puderam acumular o metal.
Portanto, empresas e cidadãos foram obrigados a entregar suas moedas, barras e certificados de ouro para o governo em troca de dólares. Foi estabelecida uma cotação de US$ 20,67 por onça troy. Aqueles que se recusaram a entregar seu ouro ficaram sujeitos a multas ou até mesmo prisão.
Em 1935, o governo dos EUA aprovou o Gold Reserve Act, que pôs fim à proibição da posse de ouro. No entanto, o governo estabeleceu uma nova cotação de US$ 35 por onça de ouro. Na prática, o governo confiscou o ouro da população.
No entanto, somente em 1974 as restrições ao uso do ouro como investimento por indivíduos e empresas foram removidas das leis do país.
Em julho de 1944, após o fim da Segunda Guerra Mundial, representantes financeiros de diversos países se reuniram em Bretton Woods, New Hampshire, Estados Unidos. O Acordo de Bretton Woods, assinado pelos países presentes, estabeleceu alguns pontos, como:
Este acordo deu grande poder para o governo dos Estados Unidos, que passou a ser o emissor da moeda de comércio e reserva mundial. No entanto, o poder de emissão do dólar estava teoricamente limitado às reservas de ouro do governo.
O presidente Richard Nixon anunciou em 1971 o fim do padrão ouro em rede nacional, culpando especuladores pelas crises monetárias pelo mundo. O fim do padrão ouro foi motivado pela queda nas reservas do governo, o que fez com que países começassem a pedir suas reservas do metal de volta.
O discurso de Nixon está disponível no YouTube e é um marco na história monetária.
https://www.youtube.com/watch?v=4-cB1Z9qceI&t=17s&ab_channel=ChessCoach
“Temos de proteger a posição do dólar americano como pilar da estabilidade monetária em todo o mundo. Nos últimos 7 anos, houve em média uma crise monetária internacional por ano. Agora, quem ganha com essas crises? Não o trabalhador, não o investidor, não os verdadeiros produtores de riqueza. Os ganhadores são os especuladores financeiros internacionais. Porque prosperam nas crises, ajudam a criá-las.
Nas últimas semanas, os especuladores têm travado uma guerra total contra o dólar americano. A força de uma moeda de um país é baseada na força da economia desse país – e a economia americana é de longe a mais forte do mundo. [...] Ordenei ao Secretário Connally que suspendesse temporariamente a convertibilidade do dólar americano [...].”
No entanto, a conversibilidade do dólar em ouro nunca mais foi estabelecida. Ao contrário, o dólar americano vem se desvalorizando constantemente em relação ao metal precioso. Até 1933, a paridade de US$ 20 por onça imperava.
Atualmente, uma onça de ouro é negociada na faixa de US$ 2000, uma queda de cerca de 99%. Desde então, o fim do padrão ouro provocou mudanças significativas na economia e na cultura global.
Agora, a cotação das moedas nacionais é mais livre, definida pela oferta e demanda, sendo afetada por uma série de fatores, como o comércio internacional e reservas do governo. Além disso, é possível afirmar que a estabilidade econômica e cambial foi abalada.
A inflação se espalhou como um câncer em diversos países após o fim do padrão metálico. O aumento de preços se tornou comum em todo o mundo, visto que os governos podem agora emitir moeda sem grandes consequências.
O site WTF Happened in 1971, criado por um bitcoiner, compila uma série de estatísticas destacando o que aconteceu com a economia global desde 1971. Por exemplo, o gráfico abaixo demonstra como houve uma queda proporcional na compensação dos trabalhadores em comparação com a produtividade após o fim do padrão ouro:
Mesmo com o fim do padrão ouro, o dólar continuou sendo a principal moeda de reserva da humanidade. Isto ocorreu, pois diversos países deram fim ao padrão metálico após 1971, dando início a uma nova era monetária.
A influência da economia dos Estados Unidos ao nível global também ajudou para que o dólar continuasse sendo a moeda dominante no comércio internacional. Além disso, o dólar continuou sendo uma moeda de reserva atraente, em comparação com moedas mais fracas de países em desenvolvimento.
Na prática, o USD americano contava com um grande efeito de rede e apoio da nação mais rica do planeta. Isto fez com que o dólar continuasse sua liderança global.
Segundo dados do Fiat Market Capitalizations, o dólar americano segue com grande margem sendo a moeda com maior valor de mercado.
O M2 Stock Money, métrica que mede o agregado monetário do dólar, está em cerca de US$ 20 trilhões. A título de comparação, o bitcoin conta com cerca de US$ 1 trilhão em valor de mercado. Na prática, o dólar americano é dezenas de vezes maior do que o bitcoin.
O dólar, como principal moeda de reserva mundial, é fundamental para o mercado de criptomoedas por diversos motivos.
A moeda dos EUA é a principal unidade de conta para criptomoedas. Portanto, é comum ver as criptomoedas sendo cotadas em dólares, o que serve como uma forma de medir o valor desses ativos. Isso faz com que o gráfico com o par dólar seja o mais relevante em áreas como a Análise Técnica, um campo da análise financeira.
Além disso, os movimentos macro do dólar influenciam significativamente os mercados financeiros de forma geral. Um aumento da inflação tende a levar mais investidores para ativos que podem performar melhor além da desvalorização da moeda. Ouro, Bitcoin e títulos são algumas opções para este caso de uso.
Por sua vez, a taxa de juros do governo dos EUA, que está diretamente ligada à inflação, também influencia o mercado em direção à renda fixa ou variável.
Outro ponto de destaque é que o dólar é uma moeda política, emitida por um país envolvido em diversos conflitos mundiais. Dessa forma, o bitcoin e outras criptomoedas surgem como alternativas neutras para indivíduos em todo o mundo.
As stablecoins pareadas com o dólar americano são um pilar central do mercado de criptomoedas. Este nicho de mercado já conta com mais de US$ 150 bilhões em valor. A forma como o valor destas moedas, que são pareadas de 1 para 1 com o dólar, é mantido varia.
As stablecoins com maior valor de mercado, como o Dólar Tether (USDt), são na prática ativos sintéticos. Isso significa que o USDt não é lastreado diretamente em dólares americanos, mas em uma cesta diversificada de ativos, muitos dos quais denominados em dólares.
O principal ativo de reserva da Tether são títulos do governo dos Estados Unidos, que pagam rendimentos à empresa. Além disso, a empresa conta com outros ativos de reserva, como o próprio bitcoin. Desde que a Tether mantenha o valor desta cesta, a paridade dos ativos está teoricamente garantida.
Notavelmente, a Tether Limited já se tornou uma das maiores compradoras globais de títulos dos EUA, superando até mesmo grandes governos. Isso demonstra a relevância global do mercado de criptomoedas.
É importante destacar que stables como o USDt e o USDC são ativos centralizados, emitidos e gerenciados por empresas. Isso diferencia esses ativos de criptomoedas descentralizadas, como o Bitcoin e o Ether, token nativo da rede Ethereum.
Por sua vez, também existem stablecoins de dólar descentralizadas, como o DAI, emitido no protocolo Maker e disponível na rede Ethereum. No Maker, stablecoins podem ser criadas com lastro hipercolateralizado em ativos como ETH e WBTC (bitcoin registrado no Ethereum).
A estruturação desses contratos e o funcionamento podem ser complexos para pessoas menos familiarizadas com finanças e criptoativos. Ambos os tipos de stablecoins contam com riscos e vantagens, e cabe ao investidor decidir qual a melhor opção para suas necessidades financeiras.
Assim como o lastro em ouro, pode ser difícil auditar as reservas em stablecoins. A própria Tether já foi multada por não manter 100% das reservas mínimas de ativos de lastro durante um período de tempo.
Foi pensando justamente em resolver esses problemas de confiança do sistema financeiro que o Bitcoin e o mercado de criptomoedas foram criados. As criptomoedas descentralizadas permitem a troca de valores de forma global, sem a necessidade de intermediários confiáveis.
Além disso, auditar as reservas de criptomoedas é simples. Basta uma prova criptográfica, como a assinatura de uma transação, para provar que uma empresa ou governo mantém as reservas que diz manter. Na prática, as criptomoedas são uma evolução do dólar americano e do sistema financeiro global.
Potencialmente, o Bitcoin e outras criptomoedas podem se transformar no novo padrão monetário global. Dado o crescimento exponencial do mercado, isso não seria um movimento surpreendente. O próprio Bitcoin já é maior do que algumas importantes moedas de governo.
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