Como funciona o Bitcoin

8 minutos
20 minutos
Você vai aprender:
  • Contexto das moedas como valor
  • Por que o Bitcoin é uma moeda
  • Como o Bitcoin obtém valor e o que explica seu preço

Blockchain e mineração: foi por meio dessas inovações que Satoshi Nakamoto venceu o desafio do gasto duplo. Mas não se preocupe com esses termos por agora! Vamos explicar o que eles significam ao longo da trilha, no momento certo. É preciso entender primeiro um pouco sobre como dinheiro comum é criado.

1. Contexto das moedas

Por muito tempo, a única forma de se criar dinheiro era minerar ouro e outros metais preciosos, que depois eram cunhados e transformados em moedas ou barras de ouro. Depois, surgiram os bancos, onde as pessoas podiam guardar suas barras de ouro e, no lugar delas, usar notas de papel (bem mais fáceis de carregar) com um valor declarado e a frase “Pagar ao portador desta a quantia de X”.

E, assim, surgia o papel-moeda, como esta nota de quinhentos réis do Império do Brasil. Esta época era conhecida como padrão-ouro. Para cada nota emitida, havia uma quantia correspondente em ouro nos cofres do banco.

Exemplo de moeda no padrão ouro
Exemplo de moeda na época do "padrão ouro".


Com isso, uma enorme quantidade de dinheiro ficava parada nos cofres dos bancos por muito tempo. Isso levou muitos deles a emprestar esse dinheiro parado, e assim ganhavam dinheiro com os juros.

Mas e se seus clientes quisessem sacar mais do que o montante disponível? Simples: bastava imprimir mais papel-moeda. Assim, chegamos à era da moeda fiduciária: os bancos podem criar dinheiro "do nada". Ou seja, “imprimem” dinheiro.

Depois de algumas idas e vindas entre padrão ouro e moeda fiduciária, hoje praticamente todas as economias do mundo são baseadas nesse sistema. Com uma diferença: na era da internet, não é mais preciso imprimir dinheiro. Na verdade, a maior parte do estoque de moeda, hoje em dia, são números na conta dos bancos.

2. Bitcoin como moeda

Voltamos então ao Bitcoin. Assim como no tempo do padrão ouro, as unidades de bitcoin são criadas por meio da mineração, mas em um processo completamente digital: os mineradores são computadores que resolvem problemas matemáticos altamente complexos para manter as transações validadas e conectadas e, como recompensa, ganham uma quantia em Bitcoins.

Toda vez que alguém faz uma transação na rede, ela vai para um bloco (conjunto de dados) com outras transações. Quando o bloco fica cheio, as informações contidas nele são codificadas em um conjunto de letras e números por uma função matemática.

Esse conjunto, que recebe o nome de hash, é então disponibilizado na rede do Bitcoin, onde os computadores (os nós) que alimentam a rede competem para validá-la. Aquele que fizer primeiro essa validação é o que de fato minerou o bloco, e como recompensa ganha uma quantidade nova de bitcoins, que não existia antes.

Um detalhe fundamental desse processo é que cada bloco inclui a hash (o código) do bloco anterior, formando uma cadeia que permite rastrear todo o histórico do Bitcoin hoje e sempre. Todas as transações estão registradas e são imutáveis e 100% transparentes. Essa cadeia de blocos recebeu o nome de Blockchain. Em tradução livre do inglês para o português, Blockchain é como "corrente de blocos".

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3. Como o Bitcoin obtém valor

Agora que você viu, ainda que resumidamente, como o Bitcoin é controlado e criado, é hora de explicarmos como ele obtém valor.

Essa é uma das questões que mais gera dúvidas e até desconfiança sobre o Bitcoin: afinal, como algo que não é tangível pode obter valor? O ouro, o diamante, as commodities e até as notas de dinheiro são palpáveis e as pessoas compreendem sua função como um ativo. Mas você já parou para pensar o motivo do ouro, por exemplo, ser um ativo que tem valor?

O ouro como ativo

A origem do valor do ouro está relacionado às propriedades físico-químicas que ele possui, que lhe conferem escassez, resistência e utilidades diversas, sendo a principal a de reserva de valor.

Escassez é uma característica fundamental de qualquer moeda, caso contrário, ela perde valor. É o que acontece quando governos emitem mais dinheiro e geram inflação. É o motivo, por exemplo, de não usarmos areia como moeda. Afinal, é um material encontrado em abundância.

Já a resistência é importante, dentre outras aplicações, para mantê-lo como uma reserva de valor. Imagine se você guarde o ouro e ele se decomponha. Você perderia dinheiro.

As mesmas propriedades físico-químicas que o tornam resistente, o tornam maleável sem perder suas características, tornando-o útil para diversos fins. Isso o torna perfeito para ser, por exemplo, reduzido em quantidades e formatos menores para ser transportado, trocado e negociado.

O Bitcoin como ativo

O Bitcoin, mesmo que artificial, reproduz virtualmente essas três características do ouro a partir da sua tecnologia:

Primeiro, ele é escasso. A criação de novos bitcoins é controlada no tempo e limitada em unidades. Quando chegar a 21 milhões de unidades mineradas, o algoritmo impedirá a criação de novos. Além disso, a cada quantidade específica de Bitcoins criados, o prêmio pago aos mineradores reduz pela metade. Ou seja, ele cresce em ritmo cada vez mais lento. Assim, diferente dos governos que tendem a tornar suas moedas inflacionárias à medida que imprimem indefinidamente mais dinheiro, o Bitcoin torna-se deflacionário ao longo do tempo, visto que é conhecidamente limitado e cresce com menor velocidade.

O bitcoin, como o ouro, também é resistente. Não tratamos, claro, da resistência física, mas da sua capacidade de ser mantido seguro. Ou, melhor dizendo, sua imutabilidade. Exemplificando, não é possível “deletar” um bitcoin nem manipular a rede para que a quantidade existente diminua ou aumente segundo o desejo de alguém. Ele não é desgastado ao longo do tempo, não se decompõe e não se perde (a não ser que você perca seu endereço de carteira). Isso o torna perfeito como reserva de valor.

Já a utilidade também ter a ver com a tecnologia. A Blockchain permite o envio e recebimento de informações em curtíssimo espaço de tempo. Assim, sua utilidade tem a ver com a possibilidade de tornar informações confiáveis, seguras e rápidas.

Mas, pela lógica, você ainda pode pensar: “mas o dinheiro de papel não é resistente e mesmo assim é considerado um ativo de valor”. Aí é que entra um outro fator que torna o Bitcoin um ativo: a adoção em rede. Para explicar isso, vamos usar mais um exemplo do mundo “tangível”, o Dólar.

A questão do lastro

Quando criado, o Dólar era lastreado em ouro. Ou seja, quando você tinha uma nota de Dólar, o governo americano garantia que haveria uma quantidade de ouro equivalente. Inclusive, assim foi como surgiu a maioria das moedas. Acontece que, após a década de 70, o governo americano definiu que o dólar não mais seria lastreado em ouro. Como então a moeda manteria seu valor?

A manutenção do valor do dólar após a perda do lastro em ouro se explica pela adoção da moeda pela sociedade e pelos mercados. Sua consolidação como ativo não mais dependia do lastro, pois 1 dólar já era entendido, a partir do momento que a percepção do seu valor estava adotada, como 1 dólar.

Parece muito teórico, não é mesmo? O que precisa estar claro para você aqui é que o valor de algo está diretamente relacionado a convenções da sociedade. Em 2010, por exemplo, foi realizada a primeira troca utilizando o bitcoin como moeda. Um programador pagou 10 mil bitcoins (hoje valeriam milhões) por uma pizza. A partir do momento que se convenciona a utilização de alguns itens como ativos de valor por parte da sociedade, o movimento é irreversível e gradualmente tende a atingir mais abrangência.

O bitcoin, com suas características especiais próprias (como o ouro teve à sua época) resolve um problema antes não solucionado: confiança de transações sem passar por um ente centralizador. Em resumo, sua genuína escassez, utilidade, imutabilidade e adoção social, tornam o bitcoin um ativo valioso.

Para saber mais

Assista aos vídeos "O que explica o valor do bitcoin" e "A verdade sobre o lastro do bitcoin", de Fernando Ulrich. Conheça seu canal no YouTube.


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